[---- 36 anos, coimbra, pt, poeta. ----]
ela era assim
não tinha nome
magra como são todas as mulheres magras
o lábio inferior era superior ao superior...
assim... mais carnudo...
e era magra
e tenra
e gostosa
e terna
e chata como são todas as mulheres ternas
sua língua era bem lisa
e ainda deve ser
um de seus olhos se chamava marlene
o outro, sempre acompanhado do primeiro, dietrich
e era magra
calçava trinta e dois
eu a senti por dentro,
sabe?,
como quando se come uma mulher
ou se é comido
não sei
só sei que foi a melhor
sua língua lisa
e me chamava de mickey
Uma mulher
de hoje.
Na luminosidade chuvosa
em meio a pilares de concreto
e sentimentos concretos
é ela
o claro-escuro em seu rosto
(ela está de camiseta branca)
ela fuma sem aflição
cruza as pernas
está de jeans
é uma mulher
descruza as pernas
tem os cabelos longos: uma mulher!
por que não seria?
(eu a vi antes de Picasso)
A mulher está deitada,
Diante dela o nada.
Lá fora, dentro de seu campo auditivo, tudo está quieto.
Lá fora um homem vive como um rato.
Ela espera e procura pelo destino sem se mover,
Ora e vigia, esperando a vida acontecer.
Ele faz coisas agarrando tudo o que lhe queima as mãos,
Suando e fedendo, derrubando muros sem usar a razão.
São separados por acharem que não podem estar juntos, são diferentes.
Nesse espaço infinito de distância e desespero continuam descontentes;
Perdem-se em corpos que desfilam realização e experiência.
Eles se amam e não sabem, pois só querem viver, cada um, da melhor maneira.
Longe deles um casal se ama em uma cama com demência.
Não é só um grito ou uma dor interior que revelam alguma nossa inocência.
(Juntos talvez se completassem na paciência)