# Thiago Neloah

[---- 36 anos, coimbra, pt, poeta. ----]

Tuesday, November 29, 2005

 

----- O D E I O C O M P U T A D O R E S



Não gosto de computadores. Não tenho computador ou internet. Acredito que os computadores transformaram o ato de escrever - e publicar; tornar público - banal. Hoje qualquer pessoa escreve, acha que sabe escrever, mas o que faz na verdade é teclar. E as pessoas teclam, teclam, teclam desvairosamente, sem se preocuparem se o que escrevem deve mesmo ser escrito ou pior, se há necessidade de escreverem aquilo.

Não contentes por teclar e teclar, esses tecladores ainda disponibilizam na rede suas ladainhas geralmente mal escritas e se auto-intitulam "escritores" ou "escritores de internet"; que é um termo que está em voga.

Teclando e tornando vulgares suas idéias estão tornando vulgar a própria internet: um universo de palavras desnecessárias, matérias, artigos, boatos, teses e notícias. Notícias e mais notícias que não importam, que não vão mudar a vida de ninguém, que não interessam a ninguém de facto, a não ser pela curiosidade, essa coisa estranha que habita nos seres mais baixos e que fa-los escutar por detrás das paredes as conversas dos vizinhos.

Essa desnecessidade das cousas não passa pela cabeça de quem tecla pois, como suas letras estão na rede e, portanto, em todo mundo, ele, o teclador, acha que o mundo todo, ou melhor, todo mundo!, está a lhe ler, está a considerar suas palavras. Sabemos que é uma mentira que se conta para si mesmo.

Outro fator que me desagrada nos computadores e internet são os e-mails. Eles dão a impressão errada de que aumentou a comunicabilidade entre as pessoas. Mas comunicação não é o que se faz via e-mail. Comunicação é o que se faz via cartas, que é meu método preferido de comunicação, seguido do telefone.

Ao receber o e-mail parece existir uma certa urgência na resposta. Quando recebe um e-mail pessoal parece que existe um dever de se responder o quanto antes. Essa urgência do on-time da internet faz com que a comunicação seja superficial, sucinta, falha, urgente. Diferente da correspondência através de cartas. Após receber (e ler) uma carta temos todo um tempo de maturação e redação da resposta. Isso pode e deve levar dias. Escolher o papel e a caneta tem a ver com consideração e intenção. A resposta ou o envio simples de um e-mail é sómente algo mecânico, ou melhor, eletrônico.

Também prefiro, como disse, falar com pessoas pelo telefone. A distância permite que sejamos mais sinceros, acredito. E podemos falar com as pessoas a nú, a defecar, ou estirados na cama... Mas isso pode ser tema para outro artigo.

Para encerrar, sob pretexto de se conseguir de tudo na internet as pessoas vivem digitando endereços que nunca as levam a lugar algum.

Comments:
olá, thiago. vim parar aqui trazida pelo biajoni. ele elogiou muito o seu texto e eu vim conferir. desculpe a intromissão mas, você não acha que existe uma contradição entre fazer esta crítica e escrever um blog!! concordo que há exageros, mas já vai longe o romantismo do poeta na torre de marfim, o ser escolhido para trazer aos homens comuns as palavras dos deuses. acho positivo ver tanta gente escrevendo. o que deve haver é uma seleção natural. tem coisas ruins impressas também, e como! nesse ponto eu concordo com o idelber avelar (www.idelberavelar.com). se você puder dá uma lida no texto dele, se não considerar perda de tempo. acho que há, logicamente exageros, mas vejo a internet e os computadores como um algo a mais. eles não vão destruir as outras formas de comunicação e se essas estão sendo menos usadas é porque já havia uma demanda por coisa nova. eu mesma nunca gostei de escrever cartas, nem quando os computadores ainda não eram uma realidade na minha vida. no mais, gostei muito do seu sítio. um abraço.
 
Olá,Thiago. Também vim trazida pelo Biajoni, que escreveu sobre seu poema no blog dele. Cara, vc utiliza de um modo muito objetivo suas palavras, e elas contém uma objetividade muito cheia de emoção!
Sobre esse seu texto especificamente, tenho a dizer que percebi uma grande dose de ironia e auto crítica nele, (será que estou errada?) E durante todo o texto, questionei se você não está certo. Porque concordo contigo que a internet transformou pessoas que não tinham o hábito de escrever (ou teclar) a sairem por ai escrevendo seus textos, seus poemas antes guardados no fundo da gaveta, seus contos escondidos e secretos ou suas percepções das coisas do mundo. Mas agora o que discordo de ti, ( se é que esse texto, não teve a intenção nenhuma de ser irônico) é que isso é nada mais, nada menos do que a democratização de um modo de comunicação ( ainda que esta democratização esteja muito aquém da que realmente eu ache necessária e acredite!)e com isso mais pessoas tem a possibilidade de expressar seus desejos e impressões e poemas. É claro que temos temos que separar o joio do trigo como já disse a Cristiane, isso é bom senso, pois a arte é forma. Quanto mais pessoas estiverem a teclar, ou escrever suas experiências, suas histórias, seus poemas e suas impressões do mundo, mais teremos a chance de encontrar belos poetas e escritores e nos deliciar com suas palavras. Você é um exemplo disso!
Gostei muito desse seu espaço.

Abraços...
 
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