[---- 36 anos, coimbra, pt, poeta. ----]
Não gosto de computadores. Não tenho computador ou internet. Acredito que os computadores transformaram o ato de escrever - e publicar; tornar público - banal. Hoje qualquer pessoa escreve, acha que sabe escrever, mas o que faz na verdade é teclar. E as pessoas teclam, teclam, teclam desvairosamente, sem se preocuparem se o que escrevem deve mesmo ser escrito ou pior, se há necessidade de escreverem aquilo.
Não contentes por teclar e teclar, esses tecladores ainda disponibilizam na rede suas ladainhas geralmente mal escritas e se auto-intitulam "escritores" ou "escritores de internet"; que é um termo que está em voga.
Teclando e tornando vulgares suas idéias estão tornando vulgar a própria internet: um universo de palavras desnecessárias, matérias, artigos, boatos, teses e notícias. Notícias e mais notícias que não importam, que não vão mudar a vida de ninguém, que não interessam a ninguém de facto, a não ser pela curiosidade, essa coisa estranha que habita nos seres mais baixos e que fa-los escutar por detrás das paredes as conversas dos vizinhos.
Essa desnecessidade das cousas não passa pela cabeça de quem tecla pois, como suas letras estão na rede e, portanto, em todo mundo, ele, o teclador, acha que o mundo todo, ou melhor, todo mundo!, está a lhe ler, está a considerar suas palavras. Sabemos que é uma mentira que se conta para si mesmo.
Outro fator que me desagrada nos computadores e internet são os e-mails. Eles dão a impressão errada de que aumentou a comunicabilidade entre as pessoas. Mas comunicação não é o que se faz via e-mail. Comunicação é o que se faz via cartas, que é meu método preferido de comunicação, seguido do telefone.
Ao receber o e-mail parece existir uma certa urgência na resposta. Quando recebe um e-mail pessoal parece que existe um dever de se responder o quanto antes. Essa urgência do on-time da internet faz com que a comunicação seja superficial, sucinta, falha, urgente. Diferente da correspondência através de cartas. Após receber (e ler) uma carta temos todo um tempo de maturação e redação da resposta. Isso pode e deve levar dias. Escolher o papel e a caneta tem a ver com consideração e intenção. A resposta ou o envio simples de um e-mail é sómente algo mecânico, ou melhor, eletrônico.
Também prefiro, como disse, falar com pessoas pelo telefone. A distância permite que sejamos mais sinceros, acredito. E podemos falar com as pessoas a nú, a defecar, ou estirados na cama... Mas isso pode ser tema para outro artigo.
Para encerrar, sob pretexto de se conseguir de tudo na internet as pessoas vivem digitando endereços que nunca as levam a lugar algum.