[---- 36 anos, coimbra, pt, poeta. ----]
Queria escrever ou descrever agora
toda angústia que se aninha em minh'alma.
Estou cá, deixando definhar meus anos mais enérgicos,
me embededando de conhecimento, olhando no espelho e me sentindo patético.
Mas meu mal, ora vejam, não é total.
Ainda à pouco escorregou pela minha cama uma moça
cuja pele silvava como louça.
Fustiguei-lhe o corpo, nutri-me de sua entrega,
fiz com que tateasse no clarão do gozo parecendo uma cega.
Deleitamo-nos do momento - um raio no breu da madrugada,
e ficamos felizes, no enxerto da entrega mensurada.
Porém nos abandonamos, fomos cada qual para o seu canto,
e amanhã, e durante a semana, essa lembrança será um acalanto.
Não estaremos sempre juntos, não queremos isto.
Um filho em nós reclama o imprevisto.
A angústia, no fim, é a partida.
É isso, a vida?